Introdução

A bandeira Kitembo/Ndembwa/Tempo é um dos símbolos mais significativos no Candomblé de Angola, representando a conexão com o tempo, a ancestralidade e a evolução espiritual. Ligada ao Nkisi Kitembo, ela remonta às tradições dos povos bantu, que usavam a bandeira branca para guiar suas jornadas e rituais. Neste artigo, exploraremos a história, os símbolos e o papel desse Nkisi nas práticas religiosas e culturais, além de sua associação com outros elementos fundamentais do Candomblé.

O Significado da Bandeira Kitembo

A bandeira branca, presente em todas as casas de Candomblé de Angola, é um dos símbolos mais fortes da tradição bantu. Ela simboliza orientação, união e conexão espiritual, especialmente em momentos de transição ou decisões importantes.

Ligação com o Tempo e os Ventos

No período em que os povos bantu eram nômades, a bandeira branca desempenhava um papel crucial. Antes de iniciar uma nova jornada, o povo cultuava o Nkisi Kitembo e aguardava o vento soprar na bandeira, indicando a direção a seguir. Esse rito destacava a ligação profunda de Kitembo com o ar, os ventos e o tempo cronológico.

Uso em Rituais e Caça

Durante as caçadas, a bandeira servia como ponto de encontro. O líder da tribo, conhecido como Mutak’lamb’lunguzo ou Ngongombira, levantava a bandeira em um mastro alto para reunir os caçadores dispersos. Essa prática assegurava o retorno seguro e a fartura para a tribo.

Nkisi Kitembo: O Rei de Angola

Simbolismo da Escada e Evolução Espiritual

Kitembo é considerado o Nkisi Rei no Candomblé de Angola. Sua principal ferramenta, a escada com uma lança voltada para cima, simboliza a evolução contínua, tanto material quanto espiritual. Ele também regula as estações, plantios, colheitas e a reprodução animal, refletindo sua influência sobre o ciclo natural.

Relação com Kavungo e Nsumbu

A conexão de Kitembo com Kavungo (ou Nsumbu) é outro ponto significativo. O vento de Kitembo é conhecido por levar doenças, enquanto sua energia promove equilíbrio e saúde, reforçando seu papel como guardião do tempo e das mudanças naturais.

A Cobra Sagrada e Angorô

O Arco-Íris como Conexão Divina

A cobra sagrada, conhecida como Angorô ou Hongolô, representa o infinito e a transformação. Sua imagem de uma cobra mordendo o próprio rabo simboliza o ciclo eterno da vida. No céu, aparece como o arco-íris, unindo terra e céu em um espetáculo de luz e cor.

Ligação com Mam’etu Ndandalunda

Angorô possui uma relação próxima com Mam’etu Ndandalunda, a Senhora das Águas Doces. Ambos compartilham o reino das águas e a energia da fecundação, reforçando a natureza transformadora e regenerativa dessa divindade.

Kitembo e a Ancestralidade

Paralelos com o Iroko e Outras Divindades

Embora Kitembo seja um Nkisi bantu, ele é frequentemente associado ao Iroko, da mitologia Yorubá, e à árvore sagrada Gameleira Branca. Outros paralelos incluem seus irmãos Kafundegi, Katendê e Hongolô, comparados a Obaluaiyê, Ossaim e Oxumarê, respectivamente.

Kitembo e seus irmãos são considerados os “Nkisis Monstros”, filhos de Nzumbarandá, uma divindade associada à Nanã na tradição Jeje/Nagô.

Curiosidades e Impacto Cultural

Kitembo é um Nkisi raro, com poucos filhos de santo em sua devoção. O sociólogo Reginaldo Prandi atribui essa raridade à localização geográfica e às florestas, que dificultaram a disseminação de seu culto. Apesar disso, sua importância permanece viva em casas de Angola e Congo, onde o mastro com a bandeira branca continua a ser um poderoso símbolo de união e orientação espiritual.

Conclusão

A bandeira Kitembo/Ndembwa/Tempo é muito mais do que um símbolo visual; ela representa a conexão ancestral com o tempo, a natureza e a espiritualidade. Com sua ligação aos ventos e às transformações, Kitembo guia seu povo em direção à evolução e ao equilíbrio. Sua rica história e simbolismo continuam a inspirar praticantes e admiradores do Candomblé de Angola.

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